Os terríveis 2 anos (terrible twos) na verdade podem começar aos 18 meses e se estender até os 4 anos. Todas as crianças passam por essa fase, mas algumas com mais intensidade, outras menos.

“Eu não gosto de chamar essa fase de “terrible”. Deveríamos pensar que bom! A criança ao passar por esse período, demonstra que está se desenvolvendo de forma saudável, se diferenciando, percebendo seus desejos, percebendo o outro e o mundo à sua volta”, diz a psicóloga Daniella Freixo de Faria, mãe de Maria Eduarda e Maria Luisa. Ok, pode não ser terrível pra eles, mas é terrível para a gente, que fica exausta e sem saber o que fazer diante de um chilique!

“A criança sente que tem que batalhar para que seus desejos sejam atendidos e faz isso a qualquer custo. Por isso aparecem muitas birras. A lista de desejos é voraz, incessante e não tem fim. Nosso importante papel como educadores é ensinar o “não”, a espera, o outro. Nós somos os primeiros “outros” na vida dos pequenos, diz Daniella.

Nós, adultos, também temos uma lista voraz de desejos, mas sabemos filtrar os mais importantes dos menos importantes, e sabemos transformá-los em projetos para, aí sim, com dedicação, espera e esforço, tentar conquista-los. Sabemos que esses sonhos podem não acontecer e que podemos nos frustrar. Seu filho ainda não tem essas habilidades. Esse é o grande aprendizado que tem início nessa fase da vida e que será exercitado sempre, cm vitórias e frustrações.

Muita coisa acontece com a criança quando ela completa 2 anos: ganha autonomia; aprende que é uma pessoa diferente dos Pais e tem vontades próprias; entra na escola; e, muitas vezes, ganha um irmãozinho. Tanta novidade é responsável pela famosa crise dos terrible twos – que, sinto muito, pode durar até os 4 anos.

Declaração de independência

Tudo isso está relacionado a alguns marcos muito importantes do desenvolvimento infantil. “A criança começa a ganhar autonomia, a falar e a andar. Aprende a dizer “não”. Os sintomas de oposição e desafio estão ligados a esse ganho de autonomia, lembra o psiquiatra da infância e da adolescência Gustavo Teixeira, pai de Pedro Henrique e João Paulo, e autor de O Reizinho da Casa (Editora Best Seller).

Agora seu filho sabe, definitivamente, que é uma pessoa e você outra. A criança está se diferenciando do adulto e tem necessidade de mostrar isso – de maneira um pouco rude, sabemos.

É como um adolescente, que precisa se distanciar do adulto (e muitas vezes discordar) para ganhar independência, para se perceber diferente, único. Ambas as fases são momentos de passagem, para ter maior autonomia. É por isso que muitos chamam esse período de a “adolescência” do bebê. Mas, calma, isso não significa que seu filho de 2 anos vai entender um papo cabeça sobre seu comportamento!

Você vai ganhar um irmãozinho! Oba!

Oba? Com todas as mudanças que ocorrem por volta dos 2 anos, é comum somar-se essa novidade, que pode ser linda para quem olha de fora, mas é um tanto complicada na cabecinha de uma criança.

Para Rachel Micheletti de Barros, a “crise” do filho Guilherme, que agora está com 3 anos e 8 meses foi agravada e prolongada pelo nascimento do irmãozinho Breno, que agora já tem 1 ano. “Gui nunca me deu trabalho e, do nada, começou a fazer birra e chorar por tudo” conta.

A criança pequena percebe o amor da mãe e do pai pela atenção que recebe. Essa é a forma como sente a sua presença. Quando essa atenção diminui pelo nascimento do irmão, por exemplo, ela pode ficar insegura do amor que antes tinha como só seu.

“Nessa idade, as crianças ficam mais distantes dos pais, seja pela entrada na escola, seja pelo nascimento de um irmão. O que elas querem é chamar a atenção, e fazem isso aprontando: se jogam no chão, por exemplo”, diz o pediatra Claudio Len, pai de Fernando, Beatriz e Silvia. Claro: a birra costuma ser uma maneira eficaz de chamar a nossa atenção. Quando a gente larga o que está fazendo para dar uma bronca a criança consegue o que queria. “Quando você sente que a criança está chorando, fazendo birra demais, ali provavelmente existe a necessidade de dar uma atenção extra, de ficar mais perto. Sentar no chão para brincar, ver um filme junto, dar um passeio, valorizar a presença. Esses encontros trazem segurança do amor”, diz a psicóloga.

A dica do pediatra é reservar pelo menos 30 minutos por dia para ficar só com a criança. Desligar celular, TV e computador. Sentar e brincar. “Não adianta apenas ficar levando na aula de natação, no parquinho, na festinha… Os pais acham que estão dando atenção fazendo essas coisas. Na verdade não, porque lá a criança vai encontrar outras pessoas e não tem a atenção dos pais. Se a mãe ficar meia hora por dia com o filho brincando em casa, reduz a ansiedade. A criança fica mais calma”, sugere Claudio.

Terrible threes

Alguns nunca ouviram falar nos terríveis 3 anos. Outros juram que essa fase é pior do que a dos 2 anos. A verdade é que não tem uma hora exata para o comportamento típico dessa idade começar e nem para terminar, isso, claro, varia de acordo com a personalidade do seu filho e a forma como você o cria.

“Que canseira! E pensar que eu tinha medo do terrible two, mal sabia eu que o terrible three era pior… Que fase!, desabafou Monique Magalhães no Facebook. Seu pequeno Mateus, de 3 anos e 7 meses, começou a se comportar de maneira diferente ao completar 2 anos. Virou a chavinha no dia do aniversário. E foi piorando… “Ele ficou mais teimoso, mais desobediente. Parece que faz só para me contrariar, só pra não dar o braço a torcer”, conta.

Essa postura opositiva é típica nas crianças dessa idade e pode ficar ainda mais intensa, dependendo de como o adulto lida com a situação. “Quando ele corrige com o castigo, grito, o tapa ou o “se você…”, a criança constrói dentro dela a vontade e a necessidade de vencer o adulto. Até esquece qual foi a sua atitude, o foco vira vencer”, explica a psicóloga Daniella.

Em vez de entrar nesse embate, nós, pais, precisamos saber nos posicionar. Falar de maneira empática: considerar o desejo do seu filho e entender a sua vontade é muito importante, mesmo que seja para negá-la depois.

Se o embate se estabelece, adulto e criança sentem que precisam vencer, então forma-se um círculo vicioso perigoso, difícil e muito desgastante. Para vencer, o adulto precisa de cada vez mais força na hora de aplicar o castigo. A criança cria cada vez mais resistência. Por isso, provavelmente aos 3 anos as crianças têm ainda mais empenho e resistência em bancar os seus desejos e a situação parece mais difícil.

“Ao criarmos empatia e construirmos esse caminho com autoridade positiva, aplicando consequências conversando, sempre dando opções às crianças, passaremos por essa fase de forma muito mais fácil e tranquila”, sugere a psicóloga.

A Monique, mãe do Mateus, está no caminho certo: “Tento ser o mais natural e calma possível. Se fico nervosa, as coisas só pioram”. Mas ela assume: “Às vezes é difícil”. E é mesmo!

Para o psiquiatra Gustavo Teixeira, a calma também é importante para dar o exemplo. “A criança vê o comportamento de quem está perto e aprende por espelhamento. Se o pai resolve tudo com violência, ela vai assumir isso como correto”, diz.

E na hora da birra?

O maior erro é fazer aquilo que a criança quer com o objetivo de acalmá-la. Ou seja: durante um escândalo abaixe e fale calmamente para a criança que quer muito compreender o que ela precisa e que por isso vai esperar ela se acalmar para conversarem. Dado esse recado, afaste sua atenção.

De acordo com o estudo que citamos logo no começo da matéria, é possível pedir a uma criança de 2 anos que se acalme e escute o que está querendo dizer – não está fora de seu alcance entender isso.

Quando ela não consegue nada com a birra, aprende que não consegue nada com a birra. Parece óbvio, mas a gente acaba esquecendo. Quem ensina se esse chilique funciona ou não é a gente.

“O adulto pode estar a serviço da criança ou a serviço da educação da criança. Estar a serviço da criança é atender todos os desejos dela. Isso é perigosíssimo e faz com que o egocentrismo (que todos nós temos ao nascer) se perpetue por muito mais tempo”, diz Daniella.

Outro erro comum dos pais é desautorizar. “O pai dá a ordem, a criança faz a birra e depois o pai deixa de lado o que falou para eliminar a birra. Isso é gravíssimo. Se você premia um comportamento errado, aumenta a probabilidade de acontecer de novo no futuro”, explica o psiquiatra Gustavo. O importante é não ceder.

Mas, calma, depois da tempestade, vem a calmaria. Esa fase passa. Quando? Vai depender de como você lida com esse mar em fúria aí na sua casa. Para ele não virar um tsunami vida afora, comece a agir desde já, colocando limites, dando muito carinho, amor e atenção, ouvindo e enxergando seu filho.

Terrible twos x Terrible threes

Aos 2

– Aprende a falar Não e gosta de se opor aos pais.

– Chora quando não tem atenção ou quando seus desejos não são atendidos.

– Consegue escolher entre duas opções simples, como: “Você pega o brinquedo para o banho ou a mamãe pega?”

– Aceita ser conduzida para outra brincadeira quando está fazendo algo que não pode.

Aos 3

– Já consegue construir frases e tem mais facilidade em expressar suas vontades.

– Faz birras e grita quando não consegue o que quer.

– Consegue escolher entre opções mais elaboradas como “Você prefere banho agora, jantar e depois ter tempo para brincar; ou brincar por mais 10 minutos, depois ir para o banho, jantar e dormir?”

– Entende por que não pode fazer determinada coisa, se o adulto explicar. Também aceita ser conduzido por uma brincadeira permitida.

Razões para amar os Terrible twos

Descubra como pode ser uma idade ótima para memórias e descobertas

1 – Eles veem o melhor das pessoas. A vontade de sorrir e brincar com todo mundo pode contribuir muito para o desenvolvimento.

2 – Encontram felicidade nas pequenas coisas. São os prazeres simples que dão às crianças as maiores alegrias.

3 – Acreditam que beijos são mágicos. Seu gesto carinhoso é a ferramenta mais poderosa para o que as crianças mais precisam: amor, direção e segurança.

4 – São líderes na tomada de decisões. As vontades fortes podem deixar a mãe e o pai exaustos às vezes, mas eles são líderes naturais.

5 – Pensam fora da caixinha. Sem inibições e com a criatividade crua, eles têm seu próprio jeito de enxergar a vida.

6 – Têm espírito aventureiro. É a chance de realizar, testar limitações, pontos fortes e a capacidade de fazer as coisas acontecerem por conta própria.

7 – São pequenos ajudantes. Quando têm suas próprias tarefas, ficam felizes em ajudar os pais.

8 – Eles vivem o presente. Em vez de se preocupar com o passado, as crianças concentram no que está diante delas.

9 – Ser capaz de se emocionar é uma qualidade que muitos adultos não têm e que é fundamental.

Fonte: Passinho Inicial; Revista Pais e Filhos– Editora Manchete – Novembro/2015 – Páginas 37 a 41.

 terríveis 2 anos (terrible twos)

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Até mais.

Este artigo tem como objetivo orientar e ajudar os pais no pleno desenvolvimento dos seus filhos. Afinal de contas, esperar para quê?

 

Impaciência, imediatismo, inquietude…Esses termos soam familiares? Nas próximas linhas, mães contam como lidam com a pressa dos filhos e especialistas explicam por que eles se comportam assim. Se na sua casa tudo tem de ser na hora, veja por que ensinar a esperar vai fazer diferença na vida das crianças agora e lá para a frente.

 

Esperar. Vai dizer que não é essa a primeira grande lição que Pais e Mães aprendem? Você ficou na expectativa para saber o sexo do bebê, pelos nove meses de gestação, pela dilatação, a primeira mamada, o engatinhar, o andar, o falar, o comer com autonomia, o ler e o escrever…Enfim, aguardar as conquistas de seu filho rumo ao crescimento. Apesar de toda a paciência que a vida requer, nem sempre esse processo é claro. Em meio à correria moderna, de um dia para o outro, os Pais podem perceber que a criança não compreende bem o significado da palavra “espera”. No vocabulário dela, tudo é para a mesma hora. E isso pode trazer consequências não só agora, mas para a vida dela lá na frente.

 

Por motivos diversos – do contato com as novas tecnologias à superproteção dos familiares – , há crianças que têm resistência para entender que tudo requer tempo e faz parte de um processo. “Meu filho, João Pedro, 2 anos e 9 meses, tem uma sede enorme de viver. Ele tem muita pressa para tudo. Eu sou calma, mas sempre trabalhei fora, o que tornou minha vida corrida. Acho que meu filho entrou nesse ritmo”, conta a advogada Lígia Cristovam de Moraes, 32 anos.

 

Ela percebe a aceleração do menino em banalidades: se a mamadeira está esquentando no micro-ondas, ele tira antes de acabar o tempo estipulado; se leva o cachorro passear, sai andando sem esperar o bichinho terminar de fazer xixi; se os Pais pedem uma pizza, começa a chorar porque quer comer na mesma hora. “Na primeira vez que isso aconteceu, eu e meu marido ficamos preocupados. Achamos que ele estava com muita fome e decidimos ir até a pizzaria. João Pedro voltou para casa com a pizza no colo, comendo no caminho. Percebemos que aquilo não estava certo”, diz Lígia.

 

Agora, ela explica ao filho que tudo tem seu tempo. “Após algumas vezes, ele tem absorvido. Mas ainda há estresse quando temos de passar por uma situação nova e que o deixa ansioso”, diz. Além da rotina corrida, a mãe acredita que outro fator contribuiu com esse comportamento: a possibilidade de ver desenhos animados no momento em que desejar, sem precisar esperar o horário de exibição. “A primeira vez que ele se deparou com os comerciais, ficou irritado, foi atrás de mim aos prantos dizendo que o desenho tinha terminado. Eu disse que o intervalo acabaria logo e que era preciso ter paciência.”

 

Geração imediatista

 

João Pedro não é o único nessa situação. Ele faz parte de uma geração que nasceu imersa no imediatismo, em uma sociedade em que as pessoas estão sempre conectadas e prontamente disponíveis para falar com as outras, em que a tecnologia reduz etapas e acelera processos e na qual não há paciência para esperar por resultados a longo prazo. Para essas crianças, é absolutamente normal compartilhar momentos nas redes sociais, escolher músicas em dispositivos de áudio, ver suas fotos na hora, assistir à TV por internet sem intervalos, obter resultados instantâneos em telas de tablets e smartphones, ver a comida ficar pronta em segundos no micro-ondas. Como não ter a impressão de que tudo deve mesmo funcionar assim, na hora que se deseja, ao mais leve toque? Para esses novos habitantes da Terra, esperar parece coisa de outra era e de outro mundo.

 

Foi o que aconteceu na casa da blogueira Annmarie Kelly-Harbaugh, 41 anos, mãe de Katie, 9, Lizzie, 5, e Henry, 2, que a  levou escrever o artigo “Why My Kids Need to Watch More TV” (Por que Meus Filhos Precisam Assistir Mais TV, em tradução livre), para o Huffington Post. Seus filhos estavam na casa dos avós e nunca mais tinham visto os programas de TV aberta. Ficaram indignados por ter de esperar o comercial passar – para eles, aquela era uma intromissão não consentida. O episódio faz Annmarie pensar sobre como seus filhos não tinham mais paciência, que viviam uma infância muito diferente da sua – que foi a de esperar pelo filme preferido, pela música na rádio, para sair com os amigos… E que seu papel como mãe era dizer: “Vá devagar”. Até mesmo para permitir que eles sejam crianças por um pouco mais de tempo.

 

Há uma corrente de estudiosos sociais que se refere aos nascidos a partir de 2010 como “Geração Alfa”. “Essa será a mais tecnológica e com maior poder de influência. Há 2,5 milhões de alfas nascendo semanalmente no mundo”, afirma à Crescer o pensador e pesquisador social australiano Mark McCrindle, que defende o uso do termo. Segundo ele, essas crianças são multitarefas e multiplataformas, ou seja, fazem mil atividades ao mesmo tempo e em diversos meios, além de terem as telas dos dispositivos eletrônicos como principal veículo de disseminação e recepção de conteúdo. Para elas, é normal viver nessa realidade de tempo fragmentada, em que podemos parar a pesquisa que estamos fazendo na internet para realizar outra tarefa, ou pausar o filme para intercalar outra atividade, ou mesmo conversar com alguém enquanto respondemos uma mensagem no celular.

 

Não bastasse toda essa enxurrada tecnológica, a vida em si está mais apressada. As famílias estão cada vez menores, com apenas um ou dois filhos. Antes, as pessoas tinham muitos irmãos, e, não raro, primos, tios e avós conviviam na mesma casa, dando suporte à educação dos menores, cada um de um jeito e na sua velocidade. As crianças podiam assistir à avó preparar um almoço, do descascar da primeira cebola ao servir na mesa, ou contar uma história no ritmo que sua memória permitia. Talvez, ajudar o avô a fazer um reparo na casa ou ver o tio confeccionar uma pipa para ela brincar mais tarde. Hoje, além da redução de processos e pessoas, boa parte dos pais e mães trabalha fora e convive menos com os filhos. “Com isso, eles se enchem de culpa e recompensam a falta de tempo atendendo a todos os seus pedidos”, argumenta o médico José Paulo Vasconcellos, do Departamento de Pediatria do Comportamento e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira de Pediatria.

 

Segundo ele, desde o primeiro dia de vida, o bebê já é capaz de entender a espera, mas isso depende de como os pais lidam com o seu choro. Se eles pegam a criança no colo ou oferecem o peito para qualquer resmungo, estão ensinando que todas as suas solicitações devem ser atendidas de imediato. “Estamos falando da capacidade de frustração. Os pais que não deixam o filho chorar nem um pouco formam uma criança que acredita que o mundo foi criado para ela. Só que ela, certamente, enfrentará dificuldades se não entender que é apenas uma entre 7 bilhões de habitantes no mundo”, diz Vasconcellos.

 

Se esperar é complicado até para adultos, imagine para uma criança, que tem menos vivência e experiência. Que o diga o filho da professora Keudma Costa, 33 anos. Theodoro, 6, é carinhoso e amoroso, mas, nas palavras da mãe, também é imediatista, mandão e não sabe esperar. “Ao pedir algo para nós, ele sempre diz – agora”. “Quando fazemos refeições em restaurantes e ele termina, quer ir logo embora”, conta Keudma. Na opinião dela, o fato de o menino ter nascido prematuro fez com que a família tivesse cuidados excessivos e, hoje, ele não aceita a espera. “O que ele pedia, a gente dava na hora, desde um copo de água até um brinquedo. Tudo para atender às suas necessidades. Meu filho começou a achar que todos deviam viver em função dele. Na escola, a professora diz que ele não consegue ficar na fila na hora do lanche. Se não é o primeiro, faz birra”.

 

Nova atitude

 

Theodoro passa a manhã no colégio e, à tarde, sob os cuidados da babá, brinca no computador, no tablete e assiste à TV. Como já sabe ler, acessa os canais de vídeo sozinho e vê os desenhos na hora que quer. Segundo a mãe, ela e o marido conversam muito com o filho e explicam que cada coisa tem seu tempo, só eu ele responde: “Mas eu não posso esperar. É chato!”. Agora, para tentar reverter esse comportamento, os pais pararam de atender a seus desejos na hora. “A gente se preocupa muito com o tipo de adulto que vamos formar para o mundo. Queremos mudar isso. Quando ele quer algo, tenho pedido para esperar, mas dez minutos parecem intermináveis para ele.”

 

Espera é mesmo complicado. “Nascemos com um espírito de sobrevivência que nos impulsiona a resolver na hora tudo o que vemos como necessidade. Esperar só parece razoável quando temos uma visão mais abrangente da situação”, explica a psicóloga Tania Paris, presidente da Associação pela Saúde Emocional das Crianças (Asec). Ela diz que os adultos, em geral, não querem ver as crianças sofrendo e, às vezes, atropelam etapas para minimizar frustrações. Mas elas precisam descobrir maneiras de lidar com o que não as agrada. “Os pais não devem se sentir culpados por não prover os desejos na hora. O momento em que não é possível atender de imediato pode ser visto como uma oportunidade para o filho se desenvolver e encontrar meios de lidar com uma situação.”

 

Por volta de 6 anos, a criança já compreende que tudo é resultado de um processo – mas não custa praticar a espera desde cedo, em níveis crescentes da dificuldade. “É assim que se desenvolve empatia, autoestima, autonomia, perseverança, paciência e a percepção de que o mundo vai além de si”, diz Tania.

 

Uma parte desse imediatismo está relacionada às características biológicas do amadurecimento infantil, segundo o neuropediatra Antonio Carlos de Farias, do Hospital Pequeno Príncipe (PR). “Muitas crianças são impulsivas porque ainda não têm o controle inibitório da parte frontal do cérebro. Isso começa a mudar aos 4 ou 5 anos”, esclarece.

 

Caso o comportamento persista, além disso, é preciso avaliar a situação. Se ela está visivelmente estressada, sente dores recorrentes pelo corpo, apresenta fobias, não quer ir para a escola e tem medo de sair de casa, pode ser que esteja caminhando para uma patologia, explica Farias.

 

Quando isso acontece, um médico identifica o que causa a ansiedade. O problema pode ser trabalhado com terapias, esportes e tratamentos cognitivos para que a criança desenvolva habilidades como resiliência em situações adversas. Se essas medidas não funcionarem, recorre-se a medicamentos.

 

E o futuro?

 

Porém, a maioria dos casos não requer esse tipo de intervenção e está mais para uma mudança na postura dentro de casa. “O melhor que os pais podem fazer é ensinar aos filhos a lidar com as consequências de suas próprias escolhas, mas, nos últimos 20 anos, parece que nos esquecemos disso. Fazemos até a lição de casa para eles. Estamos errando. Esse comportamento, somado à atual realidade econômica (de facilidade de consumo) e à tecnologia avançada, potencializa a questão do suprimento dos desejos da criança, o que provoca distorções importantes”, explica o consultor, escritor, palestrante e estudioso de conflitos de gerações Sidnei Oliveira.

 

Ele diz que a primeira geração que recebeu uma grande dose desse protecionismo foi a Y (pessoas que hoje têm entre 15 e 35 anos). Muitos estão no mercado de trabalho e costumam querer resultados e reconhecimento imediatos. Ou seja, não têm paciência de esperar as coisas acontecerem e, até por isso, trocam mais constantemente de emprego. Mesmo satisfeitos com o trabalho, eles querem mudar – seis meses a dois anos foi o prazo dado para sair do emprego por quase metade dos entrevistados em uma pesquisa da empresa britânica de consultoria Deloitte, de 2009. É característica também dessa geração ter relacionamentos afetivos menos duradouros, com troca mais frequente de parceiros.

 

“Todo jovem é ansioso, mas a geração Y e, recentemente, a Z (menores de 15 anos), estão além do normal, pois não sabem lidar com a frustração. Só que é inevitável que se frustrem no mundo do trabalho. Precisamos de cicatrizes para crescer, pois elas trazem aprendizados. Claro que os pais não devem provoca-las trazendo sofrimento, mas também não podem proteger seus filhos de tudo”, defende Oliveira.

 

Segundo o escritor, para criar adultos equilibrados, os pais precisam explicar que não são seus assistentes pessoais. Isso significa que, se eles não fizerem a lição ou esquecerem de anotar o conteúdo da prova, terão de arcar com as consequências. No caso das mais novas, uma forma de aprenderem sobre causa e efeito, e ganharem responsabilidade, por exemplo, é deixar com que procurem pelos seus brinquedos ou naninhas antes de os pais pararem tudo o que estão fazendo para encontrar o objeto no lugar do filho.

 

Ensinar a esperar

 

Atitudes simples como essas já ajudam a amenizar o imediatismo e a ansiedade das crianças. Muitas vezes, o que elas querem ao pedir algo e exigir que seja feito naquela hora é simplesmente chamar a atenção dos pais. E se elas sempre são atendidas de imediato, o recado que recebem é exatamente este: é só pedir para ganhar. “Não é preciso dar presentes caros e a todo o momento para que uma criança goste dos adultos nem para compensar alguma culpa. Bastam atitudes simples no dia a dia que fortaleçam o vínculo, como ler uma história, brincar no chão, fazer cócegas e dar atenção a ela”, explica o pediatra Vasconcellos.

 

A tática da pedagoga Cristine Flores, 27 anos, para deixar o filho Cristóvão, 2 anos e 9 meses, mais calmo é a conversa: ela explica que existe hora para tudo. As situações campeãs de impaciência são quando ele quer brincar na praça e ir embora de restaurantes. “A comunicação, geralmente, funciona. Mas utilizo também outros recursos. Para ensinar sobre o horário de dormir, por exemplo, comprei um livro sobre a rotina de um urso até a hora de ir para cama. Depois da leitura, fazíamos um exercício de lembrar tudo que meu filho havia feito naquele dia e eu dizia que outras coisas legais aconteceriam no dia seguinte, mas, para isso, era necessário dormir. Agora ele entendeu”, conta Cristine.

 

Limitar o acesso aos jogos eletrônicos também é uma atitude que pode reduzir a impulsividade e a ansiedade. É claro, há games que têm abordagens e desafios interessantes para as crianças, mas os que contém violência podem piorar a situação. Vale salientar a recomendação médica da Academia Americana de Pediatria: até os 2 anos. Evitar o contato com as telas e, depois disso, o uso diário se limita a, no máximo, duas horas. “Essa primeira fase da vida é muito sensorial. Correr, pegar, cheirar e testar os sentidos melhoram as conexões cerebrais”, diz o neuropediatra Farias. O alerta da Agência Inglesa de Saúde Pública é que crianças que passam muito tempo na frente de gadgets tendem a ter mais estresse, ansiedade e depressão.

 

O uso das telas deve ser sempre moderado e intercalado com brincadeiras fora do mundo virtual. Passar horas seguidas sentado jogando, nem pensar. E, à noite, próximo à hora de dormir, é preferível evitar. “O uso noturno é um forte estímulo para distúrbios do sono”, alerta Farias. Um estudo da universidade canadense Dalhousie comprovou que a presença da televisão, computador, videogame e outros eletrônicos no quarto contribuem para a ansiedade e inibem o sono. A pesquisa mostrou que o cérebro relaciona o quarto com esses objetos a um local de lazer em vez de descanso.

 

Táticas para acalmar

 

Outra opção contra o imediatismo é a ioga. Pesquisadores da universidade alemã de Leipzig estudaram 48 crianças de 10 anos e descobriram que a ioga melhora o equilíbrio emocional e diminui os medos, o sentimento de desamparo e a agressividade. “Com a prática, os exercícios respiratórios ajudam na concentração”, explica João Carlos Soares, criador do projeto Yoga com Histórias, que se apoia em narrativas para estimular a ioga entre as crianças. Focadas no exercício que estão fazendo, elas aprendem a se concentrar no momento que estão vivenciando e a perceber melhor o ambiente, sem ansiedade, dando a cada atividade o tempo necessário para ser realizada.

 

Soares afirma que a prática pode começar aos 4 anos. A princípio, as aulas duram, no máximo, 30 minutos. “O ideal seria praticar todos os dias, mas duas vezes por semana é um bom começo”, diz. Na casa da pedagoga e professora de ioga Cassia Parmeggiani, 32, a prática faz parte da rotina. “Quando a criança faz birra, ela é ótima para acalmar. Antes de dormir e das provas, também ajuda. Funciona muito com os meus filhos. Sinto que a prática e as leituras de livros relacionados ao tema os deixaram mais concentrados na escola e nas atividades do dia a dia”, relata ela, que é mãe de Kyron, 4 anos, e madrasta de Mirko, 13.

 

Na tentativa de acalmar os pequenos, vale também testar a meditação. A ONG gaúcha Mente Viva acredita no poder dessa prática para melhorar a qualidade de vida infantil e difunde o método em escolas. “Pais e professores relatam que os alunos começaram a se colocar mais no lugar do outro e a refletir antes de tomar alguma atitude”, afirma Roberto Matheus Durli, diretor administrativo da ONG, eu já atendeu mais de 150 escolas em todo o país.

 

Lúcio Sausen, diretor da Escola Estadual Hiroshima, em Eldorado do Sul (RS), conta que desse que o projeto começou, há quatro anos, houve grande melhora na convivência entre os estudantes – em sala, eles ficaram mais tranquilos e no recreio, menos agitados. “As brincadeiras mudaram. Antes, a preferida era bandido e polícia e eles ficavam medindo forças. Agora, jogam bola, brincam de esconde-esconde e se divertem com jogo de tabuleiro.”

 

Um estudo recente feito nas escolas de Gramado (RS) que aderiram à meditação comprova que a prática auxilia diversos aspectos nas crianças. “Elas melhoram o vocabulário e a velocidade de pensamento, prestam mais atenção e conseguem entender melhor informações implícitas nas conversas”, relata Hosana Alves Gonçalves, uma das autoras do estudo e mestranda da PUC-RS.

 

Conversas, brincadeiras, ioga, meditação, esporte, livros… Independentemente dos métodos para promover bem estar emocional nas crianças e diminuir a ansiedade e a impaciência delas, tenha em mente que é preciso fortalecer sua autoridade como pai ou mãe. “Os pais precisam saber que têm o direito de falar não”, afirma o pediatra Vasconcellos. “Eles devem ponderar e dizer, de vez em quando: Filho, eu te amo, mas você não vai ter o que quer neste momento.” Que tal tentar?

 

Seis dicas para dar às crianças noção de tempo

 

Seu filho acha que um ano passa em dez minutos? Confira as sugestões de Zena Eisenberg, especialista em educação infantil e professora da PUC-Rio, para ele compreender melhor a espera.

 

 

1 – Faça uma pizza em casa – preparar com a criança alimentos que ela costuma encontrar já prontos, como pão e pizza, é uma ótima maneira de mostrar que é necessário ter dedicação, planejamento, trabalho e paciência para que as coisas se realizem: de ir comprar os ingredientes no supermercado até esperar a massa assar. Seu filho não só vivencia o processo, como vê o resultado concreto.

 

2 – Plante um pé de feijão – a partir de 3 anos, a criança já é capaz de acompanhar o crescimento da planta, ainda que não consiga entende-lo totalmente. Chame a atenção do seu filho para as diferentes etapas: a formação das raízes, o aparecimento do broto, das folhas, o crescimento. E, claro, envolva-o nos cuidados: regar, deixar ao Sol, pôr mais algodão.

 

3 – Registre a rotina – é por meio de suas obrigações diárias que a criança começa a entender que os acontecimentos têm certa frequência e duração. Fotografe seu filho nas principais tarefas do dia: acordando, escovando os dentes, tomando café da manhã, vestindo o uniforme. Imprima as fotos, monte um painel ou um varal e peça para que ele coloque os eventos em ordem. Assim, ele adquire a noção do que vem antes, depois e de tudo o que cabe em um dia.

 

4 – Crie um calendário – monte um grande calendário anual, colocando os principais acontecimentos: Carnaval, Páscoa, Natal, Dia das Crianças e aniversários de parentes e amigos (você pode colocar pequenas fotos deles). A partir de 2 anos, a criança já começa a contar. E ainda que não saiba quantificar com precisão, vai entender que falta muito tempo para o próprio aniversário quando vir todos aqueles quadrados em branco…

 

5 – Desmonte objetos – deixar seu filho desconstruir um relógio ou um brinquedo velho dará a ele a possibilidade de ver que eles funcionam por mecanismos. Cada peça é importante, tem seu papel e precisa estar no lugar exato, trabalhando em conjunto. Seu filho vai entender que algumas coisas são mais complexas do que ele imaginava.

 

6 – Não diga “é rapidinho” – a criança precisa de medidas mais concretas, em uma linguagem inteligível e relacionada ao universo dela. Se o seu filho quer brincar enquanto você vê um filme, não diga: “Já, já eu vou” ou “Espere um pouco”. Responda que vai assim que o filme acabar. Para dar uma dimensão ainda mais precisa, use programas de que ele gosta: “Vou demorar dois episódios da Dora” ou “Você precisa esperar o tempo do Rei Leão”.
Fonte: Revista Crescer – Fevereiro/2015 – Páginas 24,25,26,27,28,29,30,31, 32 e 33.
Por que os filhos devem esperar?, Artigo

Até o próximo post.

A criança ter volta de 2 anos e pouco, então começa-se ter a impressão de que ele está sempre desobedecendo e você dizendo “não”? Não pense que é por maldade. Crianças desta idade fazem de tudo para demonstrar que têm vontade própria e transparecer independência.
Tente explicar como as coisas funcionam e que há motivos por trás das regras. Dizer que o fogão é perigoso porque faz um dodói horrível pode funcionar mais do que ficar repetindo o “tira a mão daí” toda hora.

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Até o próximo post.